"Dê-me um ponto de apoio e moverei o mundo. Dê-me uma memória para remixar
e eu mudarei o mundo". É com essa mistura da filosofia de Arquimedes e
futuro tecnológico que a Capcom apresenta o game Remember Me. A produtora,
conhecida por continuações incansáveis de suas principais franquias, saiu um
pouco de sua zona de conforto para inaugurar um de seus últimos projetos para a
atual geração de consoles.
Ok, sabemos muito bem
que se aventurar em uma série completamente nova é algo arriscado, mas a Capcom
fez a lição de casa. O Canaltech foi ao escritório da empresa, em São Paulo,
para testar os dois primeiros episódios da novidade, que chega para PlayStation
3, Xbox 360 e PCs no dia 6 de junho, com legendas e menus totalmente
localizados para o português do Brasil.
O jogo, desenvolvido
pela francesa Dontnod, combina as mecânicas de escaladas de Uncharted com os
combates de Batman: Arkham City, mas sem parecer algo muito repetitivo. E, na
verdade, as semelhanças são logo esquecidas para dar espaço à identidade própria
da história contada no game. Esse é um dos motivos que vamos dizer a você o por
que de termos gostado tanto do que vimos.
Memory
Remix
O principal atrativo
de Remember Me é a possibilidade de acessar memórias das pessoas e alterá-las a
favor da personagem. Isso se dá graças ao recurso Memory Remix, uma espécie de
quebra-cabeça interativo onde você altera as lembranças dos seus alvos. A
sensação é de assistir uma cena de computação gráfica e controlá-la à sua
maneira.
Na primeira vez que
usamos essa ferramenta, Nilin precisa fazer com que uma mulher chamada Olga
acredite que o namorado doente morreu por um erro médico. Ao acessar aquela
memória, você pode rebobiná-la ou avançá-la (literalmente) para encontrar
brechas que mudem o curso dos acontecimentos, como alterar a vacina de cura,
trocar a posição de uma mesa ou desamarrar o paciente da maca. É possível
escolher a opção que quiser, mas a história só prossegue usando a combinação
correta de elementos, que é única.
A
protagonista
Mais do que um ótimo sistema
inovador, o Memory Remix serve como pano de fundo para contar a história da
protagonista. Nilin era uma ladra de memórias profissional contratada pela
Memorize, uma misteriosa organização que criou a Sensen, uma ferramenta que
investiga interfaces de compartilhamento entre cérebro humano e máquina. A
heroína parte para uma de suas missões, mas cai em uma armadilha e tem as
próprias lembranças apagadas. Em um dos primeiros trailers de divulgação, ela
até questiona: "Se eu sou a caçadora, então por que estou sendo
caçada?".
A cada novo capítulo, o
enredo traz uma memória da vida da personagem para ajudá-la a se recordar de
sua verdadeira identidade. A jovem também encontra aliados que querem destruir
a
Memorize, a principal
suspeita no caso de roubo de memórias dos cidadãos. Um deles é Edge, fundador
de uma organização criminosa chamada Erroristas, que usa a tecnologia da
Memorize para expor seus perigos letais e dizer à sociedade que a Sensen não é
segura.
Ainda é cedo para
dizer se Nilin é uma heroína marcante, até porque a própria precisa descobrir
quem ela mesma é. Mas sua evolução permeia os caminhos do medo e da
determinação: ao mesmo tempo em que a moça está assustada por desconhecer
completamente seu paradeiro, precisa buscar as respostas necessárias para dar
fim a esse mistério. O que já dá para afirmar é que Nilin possui
características bem mais furtivas do que violentas, prezando acima de tudo pelo
senso de justiça. Deve ser por isso que sua personalidade se parece com a da
também francesa Joana d'Arc.
Combates
Nilin pode não ter o
sarcasmo de Nathan Drake ou o cinto de utilidades do Batman, mas herdou
técnicas de ambos os personagens. Além de uma caçadora de memórias, a jovem
consegue escalar superfícies com facilidade, como em Uncharted, e golpear
inimigos com rapidez semelhante à do Homem-Morcego.
O sistema de luta pode
não ser tão apurado como nos títulos da série Batman: Arkham, nem ter uma
grande variedade de golpes; na maior parte do tempo, basta apertar os botões de
ação para desferir socos e chutes sem parar, ou ainda usar um recurso que
aumenta a velocidade da personagem por tempo limitado. No entanto, o mais
divertido é montar sequências de combos para então usá-las no game.
Conforme Nilin adquire
pontos durante as batalhas, você pode associar novas habilidades de força, com
golpes físicos, de regeneração, para recuperar energia, ou de foco, para um
melhor direcionamento. Isso é feito em um menu especial chamado Combo Lab; ele
é meio confuso no início, dada a quantidade de upgrades disponíveis, mas vale a
pena gastar alguns minutos vasculhando a mecânica diversificada oferecida pelo
sistema.
A
história
O jogo é ambientado na Neo
Paris do ano de 2084. A capital da França foi palco de uma imensa catástrofe em
2047 que marcou o fim de uma guerra civil na Europa, mas anos depois foi
reconstruída com a ajuda da Memorize, como parte de um projeto de revitalização
massiva. Por um lado, a cidade se reergueu em arquiteturas futuristas e
paisagens dignas do filme Blade Runner; por outro, não conseguiu extinguir
favelas gigantescas habitadas por criaturas conhecidas como mutágenos -
possivelmente humanos que perderam todas as suas lembranças.
O crescimento da Neo
Paris também trouxe uma série de novas leis que foram instauradas na nova
metrópole. Tudo é monitorado através da memória dos moradores, que possuem um
implante de realidade aumentada na parte de trás da cabeça, e agora vivem
tranquilos sabendo que estão seguros. Contudo, são obrigados a seguirem as
regras de um governo ultra-autoritário que viola 100% da privacidade se for
necessário.
É nesse contexto que
surge o mercado negro de memórias. Imagine seus pensamentos, crenças e
ideologias em um cofre que só você sabe a senha. Para consegui-la, hackers desconstroem o conceito de segurança que conhecemos e invadem
suas lembranças. Como se não bastasse, elas ainda podem ser roubadas, trocadas,
vendidas ou até mesmo alteradas para mudar sua realidade. Basicamente,
"brincar de Deus", como cita a personagem Nilin.
Por mais que essa descrição pareça uma fantasia, ela não deve ser ignorada. Já existem tecnologias que mapeiam boa parte do cérebro humano, algumas delas capazes de ditar ou prever comportamentos específicos da sua personalidade. Por isso não é difícil imaginar que nosso futuro não está tão distante assim do que é retratado em Remember Me. Quem sabe algum dia, nossas memórias podem se tornar nosso pior inimigo?
0 comentários: